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20 de mai. de 2013

Meus amigos, os micróbios


Você faz o tipo limpinho e asseado? Não gosta de pegar na comida com as mãos e usa sabonete Protex para livrar-se das bactérias indesejáveis? Está na hora de rever seus conceitos.

Não resisti em postar sobre esta matéria do New York Times... Considere isto: dividindo o seu corpo com você, neste momento, existem nada mais nada menos que 100 trilhões de bactérias... Segundo o jornal, elas estão sendo redescobertas pela ciência como novas super-aliadas para um organismo saudável, numa espécie de simbiose em que elas digerem parte da nossa comida, aumentam nossa imunidade, produzem vitaminas para nosso consumo e podem até fazer diferença na nossa capacidade de ganhar peso.

Ame os micróbios do seu intestino... e cuide bem deles!

Tudo depende do tipo de bactérias que estamos cultivando nos intestinos... o tipo errado pode predispor à obesidade, doenças crônicas, alergias e até alguns tipos de infecção, segundo os cientistas do American Gut Project (algo como "Projeto Tripas Americanas", ugh...), um mega-empreendimento científico que pretende mapear a população de bactérias que habitam os intestinos de centenas de milhares de pessoas.


Como as bactérias do bem se desenvolvem nas crianças

A pesquisa ainda está no início, mas os cientistas já sabem, por exemplo, como a população bacteriana se desenvolve nos intestinos do bebê. No útero, o feto não tem contato com nenhuma bactéria, mas durante o parto, adquire bactérias vaginais e intestinais da mãe quando passa pelo canal vaginal.  Já os bebês que nascem via cesárea não são "inoculados" com as bactérias maternas - isso explica porque estão mais predispostos a desenvolver asma, alergias e doenças autoimunes. (Um dos pesquisadores envolvidos no projeto, preocupado quando a mulher teve que ser submetida a uma cesárea de emergência, decidiu inocular as bactérias vaginais da mãe na pele da filha recém-nascida, para garantir que ela começasse a vida em boa companhia... -- isso é que é gostar de bactéria!)

A população microbiana se estabiliza por volta dos três anos e, até essa idade, depende basicamente da dieta materna, nos bebês que são amamentados. O leite materno transmite bactérias de mãe para filho, coisa que a fórmula, por melhor que seja, não faz. O que também explica as diferenças estatísticas entre o desenvolvimento saudável de bebês que são amamentados e os que não são.

A partir daí, a variedade de micróbios que a criança desenvolve vai depender, basicamente, do que ela come. O problema das dietas "ocidentalizadas" é que a comida processada não alimenta os bichinhos, porque ela já vem toda pronta para ser absorvida pelo intestino, não sobrando nada para as pobres bactérias... Por isso, a biodiversidade intestinal dos habitantes de países desenvolvidos -- que consomem muito mais comida processada -- é menor e menos saudável do que a de populações vivendo em locais menos industrializados. E, quanto mais variada a população das bactérias "do bem", mais protegida a pessoa fica de infecções e intoxicações alimentares, porque os micróbios residentes "trabalham" para impedir a proliferação de germes patogênicos. Por isso, muitas vezes uma mesma comida faz muito mal a uma pessoa e nem afeta outra.

Outro problema para manter a população bacteriana nos níveis desejáveis é a quantidade de antibióticos. As crianças em países desenvolvidos recebem, em média, entre 10 e 20 tratamentos com antibióticos antes de completarem 18 anos. É claro que ninguém está querendo defender a abolição dos antibióticos, mas não seria o caso de se perguntar se não estamos exagerando na dose?

Conselhos dos cientistas que trabalham no projeto: inclua mais pratos fermentados na dieta, tais como iogurte e chucrute; abuse das comidas cruas, que contêm as bactérias boas (mas, claro, não deixe de lavar direitinho!); não tenha medo de deixar seus filhos pegarem um pouco de "vitamina S" e, sobretudo, comemore se você não vive em um país super civilizado e desenvolvido! Sim, a nossa comida é melhor, mais natural, mais cheia de bactérias e, por enquanto, mais barata.

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