Recordar é viver: o brincar e a nostalgia
É um fato: estamos cada vez mais nostálgicos. Trata-se de uma tendência de comportamento mundial que tem sido apregoada e repetida aos quatro ventos. As pesquisas de comportamento do consumidor, por exemplo, não se cansam de incluir essa tendência como um dos principais indicadores para novos negócios. Eu comecei a pensar neste assunto porque me considero uma pessoa pra lá de nostálgica: dos anos 80, da TV sem controle remoto, do telefone de disco... E até mesmo de épocas que eu nem vivi (adoro um filme e um vestido anos 50!). E de repente me dei conta que o mundo em volta ficou nostálgico também. Quem é que não recebeu aqueles emails do tipo "você se lembra?" com fotos das figurinhas do álbum Amar É, das bonecas fofolete? E o relançamento de brinquedos de quando você era criança?
Li uma matéria da Revista Época Negócios que fala justamente disso. Os produtos infantis que voltaram à moda porque resgatam lembranças de infância das pessoas, tendência que eles chamam de retrô. Mas, espera aí, os produtos citados na matéria são justamente produtos para as crianças de hoje. Pais e filhos ficaram nostálgicos! Como explicar que as crianças queiram consumir produtos de uma época que elas nem conheceram? Seria só influência dos pais? Acho difícil... meninos e meninas de hoje tem muito mais poder de decisão (e informação) do que as crianças dos anos 80 -- e exercem esse poder com gosto.
A explicação que eu encontro está, acho, na raiz desse fenômeno. O excesso de tecnologia, de tudo computadorizado, robotizado e virtual nos empurra, como uma lei da Física, no sentido contrário, de resgatar um espaço onde o virtual não entra, das brincadeiras antigas, das bonecas de pano e dos cavalos de pau. E, durante a Semana Mundial do Brincar, que estamos comemorando agora, vejo que os depoimentos de muitas mães e pais com relação a seus filhos apontando nesta direção. A nostalgia é uma reação instintiva contra esse mundo cada vez mais impessoal, frio e carente de contato humano em que estamos vivendo. E é por isso que ela afeta crianças e adultos, indistintamente.
Isso ficou muito claro para mim, recentemente, num encontro de família. Minha sobrinha de 6 anos, veio para mim e pediu: "Tia Dani, você me ensina a costurar?" Ela sabe que eu gosto de tudo que é manual, então o apelo foi certeiro. Saiu dali com a promessa de que, na minha próxima visita, eu levaria um kit de costura para ela aprender. Meses depois, quando me aprontava para fazer a tal visita, comentei o fato com uma amiga, que desabafou: minha filha (da mesma idade) também vive me pedindo para aprender a costurar! Resultado: o kit virou dois, porque eu não resisti e dei de presente à Nana, filha da minha amiga, um kit igualzinho. Quem pode resistir ao pedido de uma menininha que só quer brincar de costurar?
Os bichinhos que a Nana costurou |
Foi uma das minhas maiores alegrias cotidianas recentes ter dado esse kits para essas duas garotinhas. Fez a menina dentro de mim um pouquinho mais feliz. Especialmente quando a minha amiga, mãe da Nana, me confessou que o meu presente tinha sido o preferido de sua festa de aniversário. E Nana veio me apresentar, orgulhosa, o resultado das suas costuras: três bichinhos de feltro e mais uma almofadinha para a cachorra de estimação, só que esta ela ainda não tinha terminado. Feliz.
Brinquemos muito, brinquemos com nostalgia, para matar a saudade da criança dentro de cada um de nós.
Este post faz parte da Blogagem Coletiva em comemoração à Semana Mundial do Brincar promovido pela Aliança pela Infância - www.semanamundialdobrincar2013.wordpress.com
1 comments
Instigante o tema abordado, ainda mais assim! Precisamos discutir mais e mais profundamente estas questões. Isto é sério! Abraço!
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