O que é que a Finlândia tem?
Nos últimos dias, posts e tweets e notícias de jornal pipocaram em vários lugares sobre os bebês finlandeses que dormem dentro de caixotes de papelão.
A Finlândia já era a bola da vez quando o assunto é educação: seus alunos possuem o melhor desempenho escolar segundo várias avaliações internacionais; 93% da população concluem o ensino obrigatório; o país possui taxa de analfabetismo de 0%.
Agora, o país volta a ser motivo de uma onda de comentários na internet, depois que a matéria da BBC divulgou os procedimentos do governo do país nórdico com recém-nascidos, que inclui a doação de um kit maternidade para todas as novas mamães, independente de condição socio-econômica.
O kit inclui:
- Colchão, cobertor, lençol, edredom, saco de dormir
- Caixote de papelão que funciona como bercinho
- Roupinhas de frio
- Macacões, blusinhas, meias e calças em cores e padrões unissex
- Toalha com capuz, tesoura de unha, escovas de cabelo e de dentes, termômetro de banho, creme para assaduras
- Livro com ilustrações e brinquedo de morder
- Protetor de seios para amamentação e preservativos
Como é que um país se transforma em modelo de educação e atenção à família? Por que as mães finlandesas são consideradas as mais felizes do mundo?
A Finlândia iniciou seu sistema de apoio familiar em 1948, com uma espécie de "bolsa família" - só que não como uma estratégia de redução de pobreza, mas sim como um auxílio para as famílias pudessem investir mais no cuidado com os filhos. Em 1950, o sistema já abarcava 4% PIB finlandês. A partir dos anos 70, o governo começou a investir pesadamente na criação de sistemas de atenção à criança em idade pré-escolar. Como a maioria das famílias finlandesas tem ambos os pais trabalhando integralmente, o governo compreendeu a importância de desenvolver um sistema seguro, confiável e de baixo custo para atender à população. Desde 1996, os pais de toda e qualquer criança em idade pré-escolar têm direito à creche municipal para seus filhos.
A licença maternidade no país dura 263 dias, o que na prática dá mais de um ano. E, após esse período, qualquer um dos pais tem a opção de ficar em casa, em licença sem vencimentos, para cuidar do filho até que ele tenha três anos, a partir de quando ele se integra ao sistema de cuidado pré-escolar do governo.
O sistema de educação pública mais parece um esquema de educação familiar: as crianças dispõem de 75 minutos de recreio todos os dias, não entram na escola antes dos sete anos de idade -- mas já se espera que ao entrar, saibam ler, tarefa que cabe prioritariamente aos pais. Tampouco são submetidos a testes coletivos de controle e avaliação do sistema educacional. E, no entanto, há anos o país figura entre os primeiros de todos os rankings internacionais que comparam desempenhos na área de educação.
Muito do sucesso se deve, claro, ao fato de a Finlândia ser um país pequeno, praticamente sem probreza e com uma população bastante homogênea. Mas, a política de atenção integral à família, praticada há décadas pelo governo, e a valorização do professor certamente são mais do que somente "a cerejinha do bolo". Entrar na universidade para formar-se professor é mais difícil do que o ingresso para as carreiras de Direito e Medicina. Todos os professores possuem mestrado e dispõe de autonomia para criar currículo e métodos de avaliação com seus alunos, com os quais formam fortíssimos laços já que, no ensino primário, o mesmo professor acompanha a turma por cinco anos.
Não é obrigatório a atribuir notas ou conceitos ao desempenho dos alunos até a oitava série. Tampouco existe competição entre as escolas, ou seja, não há incentivo para os pais matricularem os filhos em uma instituição em detrimento de outra. As escolas provêem esportes e atividades extra-classe, para as crianças que necessitam ficar mais tempo no ambiente escolar, mas não a prática esportiva não é orientada à formação de times competitivos.
Por fim... não há dever de casa! O sistema é construído em torno da idéia que os alunos têm que ser capazes de aprender tudo em sala de aula. Pasi Sahlberg, do Ministério de Educação finlandês e autor de um livro sobre o sistema educacional de seu país, explica: “Nós preparamos as crianças para que aprendam a aprender, não para que aprendam a fazer provas e testes."
Pergunta: será que um dia a gente chega lá?
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