Seu filho é hipersensível???
Mãe sabe quando alguma coisa não vai bem, por mais que digam que ela é neurótica, ansiosa ou simplesmente teimosa. Com os dois filhos, eu pude comprovar que vale a pena confiar no instinto materno. Meu exemplo mais recente aconteceu com a minha mais nova, Sissi.
Sissi, desde que nasceu, não tinha interesse em comer. Não gostava de mamar, se engasgava, pegava no sono depois de mamar cinco minutos no peito e ficava acordando de meia em meia hora com fome. Golfava, e muito. Foi diagnosticada com refluxo. Vivia abaixo na curva de peso. E eu, desesperada. Por conta das mudanças de país, nos últimos dois anos, ela foi atendida por cinco pediatras diferentes. Em cada cidade por um. Com todos, era quase sempre a mesma história... lá pelas tantas vinha a minha queixa: "doutor, essa menina não come!" E as respostas dos médicos eram uma variação do mesmo conselho, que basicamente consistia em dizer para eu deixá-la com fome porque a partir daí ela iria comer qualquer coisa.
Mas meu instinto de mãe falava que tinha alguma coisa a mais ali. Não era que ela não gostasse de algumas comidas e repudiasse outras; ela simplesmente não comia nada. Mesmo. A mamadeira de leite era o único alimento que ela aceitava e, muitas vezes, eu tinha que esperá-la dormir para conseguir que ela tomasse.
Até um dia que uma das pediatras levou minha queixa a sério e me recomendou consutar uma fonoaudióloga. Eu me espantei: "mas a menina fala pelos cotovelos, como assim fono?!?"
Foi a melhor coisa que eu pude fazer. Em uma semana, a fonoaudióloga matou a charada. A pista veio justamente do fato de a fala dela ser adiantada para a idade -- porque isso era sinal de que Sissi não tinha problemas de articulação ou neurológicos. Na entrevista inicial comigo e o marido, já foi ficando claro o problema. Sissi é hipersensível.
A fono ia fazendo as perguntas e juntando fatos que nós nunca poderíamos imaginar que fossem relacionados:
- Vomitar com qualquer textura nova oferecida, a ponto de ela se alimentar praticamente só com mamadeira até os dois anos e de ser impossível dar qualquer remédio via oral (eu implorava aos médicos para receitar algo injetável ou por supositório, e claro, era encarada como se fosse um ET).
- Não querer pisar em grama, ter aversão à areia da praia ou qualquer outro tipo de piso "com textura". Viver andando na ponta dos pés.
- Ficar muito incomodada com sujeira. Viver limpando mesas, apontar a menor sujeirinha no chão, querer lavar as mãos com frequência...
Tudo isso ela tinha. Mas eu nunca poderia imaginar que tivesse algo a ver com a falta de interesse pela comida. E a fono me explicou que o sistema nervoso de Sissi possui um nível mais baixo de tolerância em relação a diversos estímulos e, no caso dela em particular, os estímulos tácteis. E daí vinha a rejeição pela comida, pois toda e qualquer textura diferente do leite, que era o alimento mais conhecido, ela vomitava, golfava, ou simplesmente se recusava a comer. A resposta sensorial exagerada faz com que ela responda a qualquer estímulo táctil e na área da boca forma mais intensa e "exagerada" do que uma criança com processamento sensorial típico.
As características de uma criança hipersensível
A hipersensibilidade, também chamada de defensividade sensorial, pode envolver qualquer um dos cinco sentidos ou até mesmo uma combinação deles. Por exemplo, a criança com maior sensibilidade na visão pode reagir mal com exposição a certos tipos de luz, cores ou mudança de luminosidade -- de um ambiente escuro para muito claro, por exemplo. Quando a audição é o sentido afetado, provavelmente a criança vai buscar se isolar do barulho que percebe como excessivo e reagirá como se estivesse sofrendo uma agressão aos ouvidos. No caso de hipersensibilidade olfativa, pode haver repulsa a certas comidas, lugares ou pessoas apenas por causa do cheiro.Quando a defensividade sensorial domina o comportamento da criança, outros sintomas podem começar a aparecer, como dificuldades de relacionamento social ou níveis elevados de estresse e ansiedade. A repetição de situações desconfortáveis pode criar traumas que levem a criança a perceber erroneamente o mundo como perigoso ou, no mínimo, irritante.
E como reconhecer quando um filho, familiar ou aluno se enquadra nesse perfil?
A doutora Elaine N. Aron -- que pesquisa o assunto há anos e autora do livro A pessoa altamente sensível -- defende que 15% de toda a população apresenta característica de hipersensibilidade e que isso não deve necessariamente ser tratado como doença. Minha pequena está fazendo terapia ocupacional para que as texturas diferentes não pareçam tão ameaçadoras. Em três semanas, o resultado é impressionante... Ontem ela comeu aipim amassado com uma coxa inteira de frango picadinha!!!
Se você desconfia que o seu filho se enquadra nas descrições acima, no website da Dra. Elaine, há um teste para pais que querem descobrir se os filhos possuem o perfil de criança hipersensível (em inglês). Abaixo eu coloquei uma tradução:
Se identificou? Se você tiver filhos com perfil parecido, deixe um comentário. Vai ser ótimo trocar idéias!
1 comments
Oi, vi o teu comentário no montessori para familias, adorei a explanacao sobre o que a tua filha tem, além de encorajar-me a procurar o que o meu filho tem, que bom que nao sou mae nerotica como diziam, rs...
meu filho tem 1 ano e 6 meses, e está abaixo da curva de crescimento e tbem ouvi mto sobre o deixar com fome, até que alguem (a minha pediatra actual) decidiu ouvir-me e investigar comigo, já descobrimos uma inflamação no esofago o que fazia ele fugir (e não era literalmente) da comida. Estamos a tratar isso, a ir mais a fundo pra descobrir porque dessa inflamação. Estou a fazer os exames pra intolerancia a gluten, espero em breve também descobrir o "nome" pra tratar da melhor forma...
Obrigada po impulsionar-me a seguir o meu instinto materno
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