Cinquenta semanas
Aproveitar o tempo não significa correr atrás de cada minuto. Você pode (e deve) desfrutar dos momentos com seus filhos sem olhar nos ponteiros do relógio.
Viver conectado, constantemente atarefado e fazendo várias coisas ao mesmo tempo virou a norma. Chamar alguém de workaholic é elogio. A eficiência e a capacidade de ser multitarefa são atributos supervalorizados, não só no trabalho, mas também na vida pessoal.
Mas, a que preço? Somos seduzidos a manter uma preocupação constante com afazeres e compromissos; a estarmos cada vez menos relaxados, cada vez menos disponíveis emocionalmente. E os primeiros a refletirem nossas prioridades modernas são os filhos. Sem sentir, os induzimos a que eles reflitam o modelo de "sucesso" que estamos perseguindo.
E, quando finalmente a família consegue estar reunida em casa, o tempo é escasso e o cansaço, incontornável. Agora que as festas de fim de ano acabaram -- e antes que a loucura da rotina familiar bata na sua porta --, pense que você tem 50 semanas em 2014 para viver com seus filhos. Como você pretende aproveitar este tempo?
Quando eu tive meu primeiro filho, eu fazia planos, tinha ideias e conceitos sobre como criá-lo. Ficava sonhando acordada pensando em um futuro idealizado mas, muitas vezes, na hora em que a sós, estranhamente, surgia lá no fundo um medinho que eu não sabia explicar... Um incômodo de não saber o que fazer, de como brincar. E quando alguma coisa não saía bem, como por exemplo ele não se interessava por alguma brincadeira, a insegurança aumentava ainda mais.
Olhando em retrospectiva, eu percebo que eu simplesmente não estava habituada com o sentimento de entrega, de abandono que um filho inspira. É um passo em direção ao precipício, à negativa da individualidade. É quase um sentimento de perder um pouquinho de si mesmo. Aquela pessoinha tão dependente e tão... não-você. Inconscientemente, eu arrumava alguma coisa para fazer em paralelo. Alguma coisa que me distraísse um pouco daquela perturbação, daquele abismo que no fundo era um desespero por não saber o que fazer com tanto amor por uma pessoa. E, conscientemente, eu me vangloriava por ser capaz de divertir meu filho e ao mesmo tempo fazer várias outras coisas. Mas lá no fundo, o incômodo não me largava.
O fato é que que estar sempre ocupado é uma forma de desviar a atenção do desconforto emocional e dos sentimentos de inadequação que muitos pais e mães sentem. Tudo começa com a projeção de um ideal, de filho perfeito, carreira perfeita, família de comercial de margarina. E a partir daí inventamos um plano para atingir esse ideal, custe o que custar. E normalmente o que custa é sacrificar todo o tempo e/ou a paciência disponível para dedicar aos filhos e à felicidade de simplesmente estar com eles de forma integral. Para compensar a falta da nossa presença, mergulhamos freneticamente nos afazeres, o que gera picos de adrenalina na corrente sanguínea. No momento seguinte, estamos exaustos. Aí pensamos, "mas estou fazendo tudo isso pelo meu filho!" e logo volta a culpa de que não há tempo suficiente. Para suportar a culpa, mais uma carga de adrenalina -- e de tarefas. Um sistema que se retro-alimenta. E que não faz ninguém feliz.
Minha ideia de workaholic aqui não é necessariamente a daquela pessoa que fica até mais tarde no trabalho, mas daquela que é viciada em estar ocupada o tempo todo. É uma "síndrome" que eu vejo atacar muitos pais e mães (principalmente mães). E eu me convenci de que o estado mental das pessoas que precisam estar o tempo todo ocupadas equivale a um vício. A pessoa "inventa" para si mesmo uma falta de tempo, transfere isso para os filhos e, como resultado, quando está com eles não sabe o que fazer. Desaprendeu a estar presente.
Mais do que falta de tempo, a falta de presença prejudica as relações familiares. Primeiro, porque a atitude dos pais normalmente oscila entre dois paradigmas: buscar atividades para "preencher" o tempo da criança ou cobri-las de presentes na primeira oportunidade. Em segundo lugar, porque os pequenos se dão conta dos nossos subterfúgios e começam, claro, a nos manipular em cima dos pontos fracos -- as culpas.
Outro dia eu li um artigo sobre disponibilidade emocional, que falava do “teste da cadeira de balanço”. A sabedoria do teste consiste em te dar noção de perspectiva sobre o que realmente é importante na vida, mas que na maioria dos casos a gente relega a segundo plano. É assim: você se imagina aposentado, sentado numa cadeira de balanço e faz uma retrospectiva da sua vida, tentando imaginar quais coisas você gostaria de ter passado mais tempo fazendo, se pudesse voltar no tempo. Pense no que você gostaria de ter dito aos seus filhos, ter feito com eles.
É simples. Comece agora. Você ainda tem 50 semanas neste ano para aproveitar. Tudo o que você precisa, na verdade, é estar presente com seus filhos. Sem subterfúgios.
Deixe de lado a idéia de que tudo precisa de um sentido claro e um objetivo. Algumas ideias para você estar mais presente com os seus filhos este ano:
Foto: Shutterstock |
Mas, a que preço? Somos seduzidos a manter uma preocupação constante com afazeres e compromissos; a estarmos cada vez menos relaxados, cada vez menos disponíveis emocionalmente. E os primeiros a refletirem nossas prioridades modernas são os filhos. Sem sentir, os induzimos a que eles reflitam o modelo de "sucesso" que estamos perseguindo.
E, quando finalmente a família consegue estar reunida em casa, o tempo é escasso e o cansaço, incontornável. Agora que as festas de fim de ano acabaram -- e antes que a loucura da rotina familiar bata na sua porta --, pense que você tem 50 semanas em 2014 para viver com seus filhos. Como você pretende aproveitar este tempo?
Quando eu tive meu primeiro filho, eu fazia planos, tinha ideias e conceitos sobre como criá-lo. Ficava sonhando acordada pensando em um futuro idealizado mas, muitas vezes, na hora em que a sós, estranhamente, surgia lá no fundo um medinho que eu não sabia explicar... Um incômodo de não saber o que fazer, de como brincar. E quando alguma coisa não saía bem, como por exemplo ele não se interessava por alguma brincadeira, a insegurança aumentava ainda mais.
Olhando em retrospectiva, eu percebo que eu simplesmente não estava habituada com o sentimento de entrega, de abandono que um filho inspira. É um passo em direção ao precipício, à negativa da individualidade. É quase um sentimento de perder um pouquinho de si mesmo. Aquela pessoinha tão dependente e tão... não-você. Inconscientemente, eu arrumava alguma coisa para fazer em paralelo. Alguma coisa que me distraísse um pouco daquela perturbação, daquele abismo que no fundo era um desespero por não saber o que fazer com tanto amor por uma pessoa. E, conscientemente, eu me vangloriava por ser capaz de divertir meu filho e ao mesmo tempo fazer várias outras coisas. Mas lá no fundo, o incômodo não me largava.
O fato é que que estar sempre ocupado é uma forma de desviar a atenção do desconforto emocional e dos sentimentos de inadequação que muitos pais e mães sentem. Tudo começa com a projeção de um ideal, de filho perfeito, carreira perfeita, família de comercial de margarina. E a partir daí inventamos um plano para atingir esse ideal, custe o que custar. E normalmente o que custa é sacrificar todo o tempo e/ou a paciência disponível para dedicar aos filhos e à felicidade de simplesmente estar com eles de forma integral. Para compensar a falta da nossa presença, mergulhamos freneticamente nos afazeres, o que gera picos de adrenalina na corrente sanguínea. No momento seguinte, estamos exaustos. Aí pensamos, "mas estou fazendo tudo isso pelo meu filho!" e logo volta a culpa de que não há tempo suficiente. Para suportar a culpa, mais uma carga de adrenalina -- e de tarefas. Um sistema que se retro-alimenta. E que não faz ninguém feliz.
Minha ideia de workaholic aqui não é necessariamente a daquela pessoa que fica até mais tarde no trabalho, mas daquela que é viciada em estar ocupada o tempo todo. É uma "síndrome" que eu vejo atacar muitos pais e mães (principalmente mães). E eu me convenci de que o estado mental das pessoas que precisam estar o tempo todo ocupadas equivale a um vício. A pessoa "inventa" para si mesmo uma falta de tempo, transfere isso para os filhos e, como resultado, quando está com eles não sabe o que fazer. Desaprendeu a estar presente.
Mais do que falta de tempo, a falta de presença prejudica as relações familiares. Primeiro, porque a atitude dos pais normalmente oscila entre dois paradigmas: buscar atividades para "preencher" o tempo da criança ou cobri-las de presentes na primeira oportunidade. Em segundo lugar, porque os pequenos se dão conta dos nossos subterfúgios e começam, claro, a nos manipular em cima dos pontos fracos -- as culpas.
Mais presença, menos presentes
Foto: Bruce Kasanoff |
É simples. Comece agora. Você ainda tem 50 semanas neste ano para aproveitar. Tudo o que você precisa, na verdade, é estar presente com seus filhos. Sem subterfúgios.
Eles não precisam de mais sessões de cinema, mais brinquedos, roupas ou lanches no MacDonald's. Sua presença vale muito mais. Adultos têm dificuldade em se conectar ao mundo infantil, simplesmente porque estão acostumados a ter um tipo de comportamento -- responsável, eficiente, racional. E esse tipo de comportamento é o oposto do que as crianças esperam de um parceiro.
- SIGA, NÃO LIDERE. Na hora de brincar, seu filho é melhor do que você. Deixe que ele guie a brincadeira e resista à tentação de liderar. (A não ser, claro, se a segurança do pequeno estiver em risco!).
- ABAIXE-SE. Procure colocar-se na altura da visão da criança, assim você poderá ver um pouquinho do mundo com os olhos dela.
- PERCA A RAZÃO. Brincadeira que é brincadeira não precisa de objetivo, não tem certo nem errado. Ela colocou a boneca para dormir dentro da geladeira de briquedo? Riam juntas. Essas são as melhores oportunidades de desenvolver criatividade naturalmente.
- APROVEITE A ROTINA. Quantas vezes você já disse para si mesmo "como eu queria que minha mãe/meu pai tivesse me ensinado a fazer X...?". Aproveite o cotidiano para ensinar os pequenos a consertar pequenas coisas, ajudar na limpeza, trocar um pneu ou costurar (se você souber!). E, acima de tudo, ensine-os a cozinhar, principalmente os meninos.
APROVEITE 2014 E SEJA FELIZ AGORA COM SEUS FILHOS!
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