O desafio de colocar limites sem punição
Colocar limites - acho que este é talvez o maior dilema das mães modernas. Fomos educadas por nossos pais de uma forma que hoje já não parece adequada para educar os filhos. Mas, pensando bem, é razoável que seja assim. Cada geração tem um jeito de educar que faz sentido naquele momento e naquele lugar, mas que perde a validade com o passar do tempo. A sociedade evolui e, quando filhos e filhas se tornam pais, os modelos que eles aprenderam na infância já ficaram obsoletos.
Como tantos outros adultos de hoje, eu apanhei várias vezes quando criança, levei as famosas chineladas. E era sortuda: tinha amigos que apanhavam de "varinha de goiabeira" ou de cinto - as piores punições na minha época. Um pouco mais longe no tempo, meus pais e sogros recontam, nas memórias de seus tempos de infância, surras e atos de violência física que hoje seriam motivo de chamar a polícia.
E é assim. Hoje simplesmente isso não faz mais sentido. O conhecimento das pessoas aumentou, a Psicologia evoluiu e se disseminaram informações que viraram incontestáveis, como a de que a formação de uma criança deve ocorrer em um ambiente acolhedor, livre de violência física ou moral. Mas como efetivamente aplicar a disciplina sem poder recorrer à ocasional palmada? E o que dizer do castigo?
Outro dia eu li em um grupo de mães no Facebook um post em que a mãe pedia conselhos sobre como colocar o filho "no cantinho do pensamento". Ela contava, em tom desanimado, que quando o filho se comportava mal, ela perguntava se ele gostaria de ficar de castigo; como resultado, o filho ria e respondia que sim. E ela, claro, ficava sem saber o que fazer. Imagino a sensação de impotência dessa mãe. Ela não quer castigar o filho, mas seu repertório para exercer disciplina está se esgotando.
Eu passei por esse medo com meus dois filhos. O primeiro, porque era o primeiro, né? Mas ele tinha uma personalidade encantadora, dócil e compreensivo (e tem até hoje, com 19 anos) e acabou que foi tudo razoavelmente fácil. Já com a segunda... tudo diferente. Sou mãe de Sissi, a imperatriz. Desde de pequena ela já vinha dizendo a que veio. Geniozinho danado, antes de dois anos deixava a gente de cabelo em pé. Eu previ muito desgaste quando ela atingisse a fase dos 3 a 5, mas investi pesado em um "treinamento de mãe". Ela já está para completar quatro e vejo que está dando certo. Juntando meus instintos, a experiência do primeiro com muita leitura sobre o assunto, acho que acabei desenvolvendo técnicas que podem funcionar com filhos de outros também.
Como tantos outros adultos de hoje, eu apanhei várias vezes quando criança, levei as famosas chineladas. E era sortuda: tinha amigos que apanhavam de "varinha de goiabeira" ou de cinto - as piores punições na minha época. Um pouco mais longe no tempo, meus pais e sogros recontam, nas memórias de seus tempos de infância, surras e atos de violência física que hoje seriam motivo de chamar a polícia.
E é assim. Hoje simplesmente isso não faz mais sentido. O conhecimento das pessoas aumentou, a Psicologia evoluiu e se disseminaram informações que viraram incontestáveis, como a de que a formação de uma criança deve ocorrer em um ambiente acolhedor, livre de violência física ou moral. Mas como efetivamente aplicar a disciplina sem poder recorrer à ocasional palmada? E o que dizer do castigo?
Outro dia eu li em um grupo de mães no Facebook um post em que a mãe pedia conselhos sobre como colocar o filho "no cantinho do pensamento". Ela contava, em tom desanimado, que quando o filho se comportava mal, ela perguntava se ele gostaria de ficar de castigo; como resultado, o filho ria e respondia que sim. E ela, claro, ficava sem saber o que fazer. Imagino a sensação de impotência dessa mãe. Ela não quer castigar o filho, mas seu repertório para exercer disciplina está se esgotando.
Eu passei por esse medo com meus dois filhos. O primeiro, porque era o primeiro, né? Mas ele tinha uma personalidade encantadora, dócil e compreensivo (e tem até hoje, com 19 anos) e acabou que foi tudo razoavelmente fácil. Já com a segunda... tudo diferente. Sou mãe de Sissi, a imperatriz. Desde de pequena ela já vinha dizendo a que veio. Geniozinho danado, antes de dois anos deixava a gente de cabelo em pé. Eu previ muito desgaste quando ela atingisse a fase dos 3 a 5, mas investi pesado em um "treinamento de mãe". Ela já está para completar quatro e vejo que está dando certo. Juntando meus instintos, a experiência do primeiro com muita leitura sobre o assunto, acho que acabei desenvolvendo técnicas que podem funcionar com filhos de outros também.
Em primeiro lugar, as crianças precisam se sentir conectadas para a disciplina funcionar. Mas como? Quando eu escuto a palavra "conectar", vem logo à mente a ideia de abraços, beijos e risadas. Dizer "não" dificilmente parece uma forma de estabelecer conexão, mas pode ser. Vamos lá:
Converse com seu filho, mas de verdade.
Em primeiro lugar, é preciso estar no mesmo nível da criança. Nível de altura mesmo. Nada mais desigual e intimidador do que uma pessoa falando num plano bem mais alto com você. Abaixe-se e olhe diretamente nos olhos do pequeno. Peça a ele, em tom de voz firme e sereno, que preste atenção ao que você tem para dizer. Pronto. 50% do trabalho está aí. Quando você consegue ter a atenção da criança, em geral ela genuinamente vai ouvir o que você tem para dizer. Agora o tom de voz é fundamental. Crianças são mestres em detectar qualquer alteração na voz que delate insegurança, raiva ou outro tipo de "vulnerabilidade". Você tem que estar no controle.
Aí você pode pensar, "mas e se meu filho não conseguir se controlar e ficar fazendo um escândalo?!? O que eu faço?" De novo, você tem que estar no controle. Os filhos fazem birra, se jogam no chão, choram e gritam porque sabem que isso surte efeito. Seu filho espera vê-lo vulnerável em decorrência da birra. Quebre o ciclo vicioso. Diga a ele, em tom calmo que, se aquela situação continuar haverá uma consequência. Outro ponto fundamental é que a consequência precisa ter relação direta com o comportamento inadequado.
- Não está se comportando adequadamente em um local? Terá que sair.
- Não quer comer? Não sairá da mesa e não poderá brincar enquanto não terminar. (Normalmente eu crio uma expectativa de brincadeira irresistível para surtir mais efeito...)
- Está fazendo algo que coloca sua segurança em risco? Terá que ficar presa comigo. De mãos dadas ou no colo.
No caso específico da birra que envolve se jogar no chão e chorar em um lugar público, normalmente, a minha consequência é dizer que eu vou sair do lugar e deixá-la ali. O que funciona instantaneamente. Mas, cada caso é um caso e 1) Precisa uma certa coragem de virar as costas para o filho e sair andando calmamente, porque dá um medinho; 2) Algumas crianças podem ser mais resistentes. Uma alternativa é dizer que a consequência será tirá-lo do local. Seja o que for, festa de amiguinho, parque. O importante é levar a criança para algum lugar onde ela possa se recompor - e você também.
Tudo isso tem que ser encarado como consequência natural do comportamento da criança, e não como castigo. Pense que é uma excelente oportunidade para ensinar causa e consequência. "Toda vez que eu faço X, acontece Y".
No momento em que a criança se acalmar, você precisará explicar a ela porque o comportamento não é aceitável. Em primeiro lugar, para mim funciona fazer o seguinte: só falo com minha filha quando ela não está chorando, gritando ou fazendo manha. Digo a ela que darei um tempo para ela se acalmar. Se ela continua com a manha, digo que infelizmente não consigo entender o que ela diz enquanto está chorando ou gritando e finjo que não entendo o que ela está dizendo.
Ultrapassado este momento de tensão, é a hora de conectar. Seu filho está mais calmo, abaixe-se até a altura dele e converse. A maioria dos conselhos que eu vejo sobre colocação de limites sugere um diálogo que procura evitar, de forma sutil, o confronto direto e acaba nos distanciando ao invés de nos conectar com as crianças.
Exemplos:
- Frases na terceira pessoa: "isso não é bom..."; "é feio fazer isso..."; "Mamãe não gosta quando você ..."; ou "Lucas, isso não pode fazer..."
- Outro tipo é a abordagem filosófica, que recorre à generalização: "No rosto não se bate"; "Ruas não foram feitas para correr"; "Amigos não são para morder ".
- Ou ainda o fatídico plural majestático: "Nós não cuspimos a comida" ou, modernamente, "A gente não briga com o amiguinho".
Pessoalmente, eu também evito o tom do "meu anjo", "meu bem" ou "meu amor". Soa paternalista e, no fundo no fundo, quase irônico, porque usar expressões de muita ternura nesses casos me soa um pouco falso, especialmente se o adulto está se sentindo irritado enquanto finge calma e carinho. Não pense que as crianças não percebem.
Optei pela formulação do tipo: "Eu não vou deixar você fazer isso" / "Não posso deixar que você continue a..." E explico o motivo.
Sinto que quando me dirijo nestes termos, Sissi se conecta instantaneamente com o que tenho a dizer. É como se eu estivesse dizendo a ela que há uma barreira entre o que ela quer e o que é possível, mas de forma direta e respeitosa.
Mas, é claro, isso não é um conto de fadas. Ato contínuo, a resposta seguinte dela é: "Mas eu quero fazer!"
Para isso eu já tenho um protocolo pronto, tão repisado que ela já completa as frases: "Você pode querer, não tem problema nenhum. Só que nem tudo que a gente quer, a gente pode." A parte do "nem tudo que a gente quer" eu nem preciso terminar, porque ela completa sozinha. E na maioria das vezes, já faz isso rindo. Ou seja, já ganhei. :)
Coloco expectativas possíveis e, se for o caso, prometo atender ao desejo dela de uma forma razoável. Se a birra for por um doce em um momento inapropriado, digo que pode ser depois etc. etc. Se for sobre um comportamento indevido, aí não tem compensação.
Um dos aprendizados mais valiosos para mim neste processo é mostrar para ela que existe uma diferença entre "querer" e "poder fazer", mas que o querer em si não é errado ou inadequado. Existe um processo de acomodação entre o que se quer e o que se pode, que eu procuro transmitir para ela de forma que ela entenda, porque essa é uma das chaves para uma vida adulta feliz e equilibrada.
E eu vou aprendendo também, me descobrindo e, que bom, sentindo que me torno uma pessoa melhor. Como dizem por aqui, inshallah.
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