As arquitetas da mente
Na qualidade de ex-futura-cientista frustrada, que abandonou uma carreira em Ciências para seguir a vida no mundo das Humanas, sou ávida consumidora de informações científicas sobre desenvolvimento infantil. Com quinze anos de espaço entre um filho e outro, me fascina descobrir conhecimentos novos que sejam úteis para pais e mães lidarem com a criação dos filhos de forma mais positiva e gratificante.
É pena que muitas dessas informações só estejam disponíveis em inglês. Como este livro novo que me fisgou: Early Childhood and Neuroscience - Links to Development and Learning (algo como "Primeira infância e neurociência - vínculos entre o desenvolvimento e a aprendizagem"). O livro foi publicado em 2013, e o texto faz referência a pesquisas científicas bem recentes.
Pois eu estava com ideia de fazer um post sobre outro assunto, nada a ver com isso de neurociências, mas achei as informações do livro tão interessantes que resolvi compartilhar agora mesmo enquanto estou lendo! Ele começa assim, e traduzo de forma resumida:
A neurociência tem enormes implicações para o desenvolvimento de crianças pequenas e para a teoria da aprendizagem. No cérebro, as mudanças internas que ocorrem durante o aprendizado dependem de alterações químicas originadas partir de neurônios localizados no neocórtex. Essas interações químicas, ao longo da evolução humana, foram responsáveis pelo notável desenvolvimento cognitivo humano.
As mudanças químicas no cérebro são ativadas através do contato social com outras pessoas. A capacidade que os seres humanos possuem de trocar expressões emocionais entre si começa a se desenvolver bem cedo, durante uma espécie de "longo treinamento" que ocorre na primeira infância. Esse treinamento faz com que o cérebro desenvolva a capacidade de compreender e expressar linguagem, símbolos, raciocínio abstrato, além de uma variedade de habilidades sócio-emocionais complexas que possibilitam, por exemplo, a integração em grupos sociais.
O neocórtex abriga, ainda, outros fatores biológicos essenciais para o aprendizado. São componentes que processam as informações sensoriais e de movimento, além de uma rede de neurônios responsáveis por secretar substâncias associadas a determinados estados emocionais. Esses neurônios -- e essas substâncias "emocionais" -- estão presentes em cada processo cognitivo que ocorre no cérebro e formam a base de sustentação para que o aprendizado possa ocorrer, dentro de um sistema em que as funções afetivas e as funções cognitivas se encontram integradas e são indissociáveis. No cérebro do homem moderno, as emoções funcionam como as principais precursoras do pensamento e da memória.
Ou seja, as emoções podem ser consideradas como as principais arquitetas da mente.
Qual é o impacto dessa afirmação? É o mesmo que dizer que o aprendizado não ocorre se não houver um vínculo afetivo que o sustente. É quase como dizer que a emoção é a mãe da razão. Segundo o livro, as crianças aprendem o que é afeto antes mesmo de que possam atribuir qualquer tipo de significado a palavras: as tentativas de coordenar a expressão dos desejos afetivos -- através dos movimentos ou da fala -- fazem com que a criança bote a máquina de aprendizagem do cérebro para funcionar.
Então, não é que as emoções influenciam a capacidade de aprender; elas são a condição principal para que o aprendizado possa acontecer. É uma diferença sutil, mas muda tudo. O aluno que é taxado de bagunceiro, preguiçoso, ou de que simplesmente que não aprende irá "carimbar" emoções de angústia e medo em seus processos mentais de aprendizagem. E isso prejudica não só o desenvolvimento mental, mas também o desenvolvimento de coordenação motora e da capacidade de comunicação.
Precisamos organizar bem o contexto afetivo aos nossos filhos... Aprender é amar, é se apaixonar pelo desconhecido e se esforçar para torná-lo conhecido. Como o bebê que se esforça para sorrir porque descobriu que a mãe reage positivamente e se aproxima dele toda vez que ele ri.
Mas como é que se cria um vínculo afetivo de aprendizagem com as crianças? Bem, eu ainda não li o livro todo, estou só no comecinho, mas tenho um palpite. Minha primeira impressão é de que os pais devem fazer o dever-de-casa e ensinar, de forma clara e objetiva, seus filhos a lidarem de forma positiva com suas próprias emoções. E é possível fazer isso até mesmo com crianças pequenas, menores de seis anos. Duas estratégias específicas me vem à cabeça:
- reconhecimento da emoção
- inibição de impulso
Mas elas vão ficar para o próximo post.
Até.
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